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20 outubro 2017

Ele ou (Nada)

Ela não podia viver
Sem ele. Ela não podia.
Viver só.
Então ele era ponte,
Cais,
Era atoleiro.
Era melhor estar só ele,
Do que estar só.
E ainda que muitos estivessem próximos,
Só ele estava perto da alma dela.
E não havia amor, 
Amigo,
Mãe, nada supria o vazio,
Nem ele supria, mas ele tampava.
Sendo melhor sentir e não ver
O vazio,
Do que ver o vazio da casa,
E sentir o vazio da sua alma
Refletida nos móveis parados
No chiado do vento
E da tv desligada.

20 maio 2015

Diana

Nascida num dia de chuva, 7 de julho de um ano qualquer terminado em sete, ela não era bem uma guerreira, nem uma princesa. Ela era comum. Ela tinha a mania de guardar sua coisas em caixas pretas mas pintadas de branco por dentro, guardava coisas claras como cristais e lágrimas, tinhas poucas coisas escuras que guardava enroladas em paninhos brancos.
Ela tinha uma boneca feita de imaginação, que mudava de lugar e forma, presença e tamanho. Tinha um vestido rosa para o ABC, um preto para o Luto e um amarelo para todos os dias. Gostava de tranças e floreios, só não gostava de mesmices, chatices e rodeios. Era espivitada e tranquila, um pequeno desvio na reta da vida, era um esquina pra rua nenhuma.
Tinha sete anos desde que nasceu, morreu aos setenta e sete, assim, sem viver nenhuma outra idade. Ela vive os dias deitada no meio da sala, iluminada por uma fresta de luz, abraçada a boneca, com sua caixa ao lado olhando para o lustre translucido por um cristal lilás.
Ela vive em um mundo paralelo, que ninguém mais vive, ela vive lá e cá, todos os sete dias da semana. Sete.
Ela gosta de coisas boas, limpas e decentes. Mas vive na casa de lenha queimada, nos móveis de granito negro e sabe muito bem que é noite lá fora.
Ela guarda sua lágrimas sempre, num potinho de vidro pra por na caixinha, quado é preciso ela usa por um bom motivo. Ela roda a sala toda o jardim os quartos os cômodos o quintal a noite o dia. As vírgulas ela também guarda, lhe lembram pontos finais tristes. Ela cava o ar, com colher de chá, espera achar o tesouro de alguma sereia do ar.
Ela coleciona tudo o quanto pode, para algum dia alguém achar.

06 abril 2015

Tempo de mim



A casa não faz nenhum barulho
Ela espera silenciosa
Como a esposa de um soldado que foi pra guerra
Nem a rua faz burburinho, nem os cachorros latem, nem os mendigos gritam
Todos atentos, ao barulho do relógio da minha alma
Que tic-taca no ritmo das batidas do meu coração
Queria pular o tempo
E te ver logo
Pra essa agonia da casa e do meu coração ir embora
E o tempo da minha alma voltar ao normal

17 fevereiro 2015

Inimputável

Não sou teu dono, nem posso sê-lo.
Não sou dono, nem de mim.
Não sou dono de nada que eu tenho,
Nem posso sê-lo.
Brincar de iô-iô, vai e volta.
Você é avião de papel sem rumo,
eu pedra de sabão,
eu papel toalha,
você, caleidoscópio.

Qual opção eu sou? Triste seria a amargura deixa,
na escolha de palavras,
no momento do agora.